8 de novembro de 2013

Por que o homem fica “grávido”?


Por Lilian Loureiro

 No primeiro artigo desta série falei sobre como a gravidez afeta as emoções da mulher, neste irei falar como a gravidez afeta o homem. 

A paternidade é um momento muito importante para o homem. Apesar de não sofrer todas as modificações orgânicas e biologias como a mulher, as transformações ocorrem emocional e psiquicamente e acabam repercutindo no interesse sexual pela companheira.

Síndrome de Couvade: o homem 'grávido'

Contrariando a visão corrente da psicanálise de que a mulher tem inveja do "pênis" do homem, durante a gravidez, em alguns casos o futuro pai desenvolve a chamada "Síndrome de Couvade" (4). Neste processo, é ativado no homem uma identificação e rivalidade com a mulher durante a gestação, em que são desencadeados sentimentos de empatia, em que o homem expressa o desejo de participar mais ativamente da gestação; e de uma certa inveja pela capacidade da mulher gestar um feto dentro de si. Nesta síndrome, há uma variedade de reações no homem, desde a ansiedade simples, até sintomas de uma gravidez, como enjôo, sono, desenvolvimento de barriga. Este processo pode afetar tanto positiva (aproximação e desejo sexual pela parceira), quanto negativamente a sexualidade do casal, dependendo da forma como o homem lida com a situação.

A gravidez, dependendo da criação do homem, desencadeia uma certa revivência edípica, de forma que gera fantasias incestuosas em relação à mãe/mulher, o que acaba desencadeando o desinteresse sexual pela companheira, dissociando desta maneira o sexo da vivência da maternidade, colocando a mulher na posição de "mãe-santa-assexuada" (6). Este fato pode ser ilustrado a partir do filme "Máfia no Divã", em que o mafioso interpretado por Robert de Niro, não se permite transar com a mulher, uma vez que é esta quem alimenta seus filhos. Mais uma vez aqui, podemos observar a dissociação entre Deméter e Afrodite, mas a partir da percepção do homem.
Além disso, o filho representa para o homem uma terceira "pessoinha" na relação dele com sua mulher, de forma que este pode ser vivenciado como um "estranho" com o qual terá que dividir o amor e a atenção da companheira, desencadeando, muitas vezes um certo desinteresse por ela (6).


Fontes

(1) BOLEN, Jean Shinoda.
As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. Trad. Maria Lydia Remédio. São Paulo: Paulus, 1990.
(2) BROWN, Dan. O Código da Vinci. Trad. Celina Cavalcante. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
(3) JUNG, Carl Gustav. Memória, Sonhos e Reflexões. Trad. Dora Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 22ª edição.
(4) MALDONADO, Maria Teresa. Psicologia da Gravidez: Parto e Puerpério. São Paulo: Saraiva, 1999.
(5) MOREIRA, Maria Ignes Costa. Gravidez e Identidade do Casal. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.
(6) SOIFER, Raquel. Psicologia da Gravidez, parto e puerpério. Trad. Ilka Valle de Carvalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1980.


(TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA ELETRÔNICA VYA ESTELAR, COLUNA AMOR EM 2005)

Como a gravidez afeta o casal

Por Lilian Loureiro

Com este artigo encerramos a série 'Gravidez e Sexualidade'. No primeiro falamos como a gravidez afetava as emoções da mulher, no segundo como afetava as emoções do homem e nesse terceiro falaremos como a gravidez afeta o casal.

No casal, a gravidez simboliza a "criança divina", fruto da transcendência entre o homem e a mulher. Precisamos ficar atentos para não cairmos num "psicologismo" e assim perdemos o caráter simbólico e transcendente da gravidez/sexualidade para o homem e a mulher.

A sexualidade não é restrita à função biológica, ela vai além do significado pessoal e biológico, uma vez que também encerra a função transcendente espiritual e luminosa que permite o contato com Deus (3). Esta era uma concepção muito comum na era pré-cristã, nas chamadas religiões pagãs, que acreditavam que o contado com Deus não se dava através de uma "instituição", mas sim por meio das coisas mais simples da natureza, incluindo aí, o sexo. 

Existiam rituais sagrados, como o "Hierogamos", em que o homem e a mulher se relacionavam sexualmente para se conectarem com Deus. Acreditava-se que no momento do orgasmo o homem conseguia manter a mente livre de pensamentos e assim conectava-se com Deus, sendo que a mulher era sagrada, por permitir tal conexão (2). Desta forma, a relação sexual era vista como sinônimo de comunicação e comunhão.

Com o cristianismo, tal concepção foi rompida, a mulher passou a ser mal vista pela sua sexualidade, e esta passou a ser vista como impura, suja, pecaminosa, indigna de mulher direita, e pior ainda, completamente dissociada da gravidez.

Tal dissociação infelizmente acaba interferindo no relacionamento do casal. O aspecto negativo da sexualidade está tão presente, que muitos casais ignoram completamente este contato durante a gestação (atuação de forma negativa das fantasias discutidas anteriormente), não se conectando com as divindades desta forma.

Há uma tribo indígena brasileira que habita a região do Mato Grosso do Sul, que acredita que o sêmen paterno é o alimento do embrião. Por conta disso, o sexo é praticado muitas vezes durante a gravidez, a fim de que o desenvolvimento da criança seja garantido (5).

O sexo durante a gestação dita normal, é excelente para todos os envolvidos: mãe/mulher, pai/homem, filho/integração, quando as fantasias que foram discutidas anteriormente ficam mais claras e conscientes, e tanto o homem e a mulher estão inseridos de forma plena nesta situação. Contudo, vale a pena ressaltar que o pré-natal é imprescindível para o acompanhamento da gestação. Há casos que "infelizmente" o "fazer amor" não é indicado.


Fontes:

(1) BOLEN, Jean Shinoda.
As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. Trad. Maria Lydia Remédio. São Paulo: Paulus, 1990.
(2) BROWN, Dan. O Código da Vinci. Trad. Celina Cavalcante. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
(3) JUNG, Carl Gustav. Memória, Sonhos e Reflexões. Trad. Dora Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 22ª edição.
(4) MALDONADO, Maria Teresa. Psicologia da Gravidez: Parto e Puerpério. São Paulo: Saraiva, 1999.
(5) MOREIRA, Maria Ignes Costa. Gravidez e Identidade do Casal. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.
(6) SOIFER, Raquel. Psicologia da Gravidez, parto e puerpério. Trad. Ilka Valle de Carvalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1980.


(TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA ELETRÔNICA VYA ESTELAR, COLUNA AMOR EM 2005)

Grávida? Saiba como a gravidez afeta suas emoções

Por Lilian Loureiro

A maternidade e a paternidade são vivências que transformam a identidade da mulher e do homem. Neste primeiro artigo, iremos discutir a repercussão desta questão na mulher; no segundo como a gravidez afeta o homem e no terceiro mostrando como a gravidez repercute no casal.
Como a gravidez afeta a mulher
A gravidez é um momento de profundas transformações, tanto no nível orgânico para a mulher, quanto no emocional para o casal. Para a mulher, além do corpo se modificar para poder abarcar uma nova vida, o psiquismo também precisa de uma transformação, uma vez que uma nova identidade começa a surgir: a de mãe. Em função disso, muitas vezes a gravidez modifica o relacionamento do casal e a percepção que se têm do corpo, o que muitas vezes acaba interferindo, tanto positiva, quanto negativamente na sexualidade do casal.
Como já foi discutido em nossos artigos anteriores, há uma cisão entre a mulher "pura", "de família", "a santa"; e a mais atirada, aberta aos seus desejos, "a prostituta", como se não fosse possível a coexistência de ambas de forma integrada em uma mulher. Tal cisão é muito freqüente durante a gravidez, de forma que o sexo é extinto. Para muitas pessoas é como se a maternidade e a lactação representassem a completa cisão entre esses dois aspectos da mulher, de modo que o sexo passa a ser visto como sujo, feio e maléfico para o bebê.
Em muitos casos, a mulher sente dificuldade em aceitar as modificações corporais durante a gravidez, sentindo-se feia, gorda não atraente para o parceiro e, portanto, não disponível para o relacionamento sexual. Além disso, também é comum o medo de que a relação sexual possa atingir e machucar o feto, de forma que a cisão maternidade/sexualidade tende a permanecer e/ou aumentar.

Deméter e Afrodite

Podemos entender esta cisão a partir de duas deusas gregas: Deméter e Afrodite. As deusas gregas representam características arquetípicas, potencialidades presentes em todos os seres humanos, sejam homens ou mulheres. Deméter representa arquetipicamente o aspecto mais maternal, voltado ao cuidado, proteção, nutrição, negligenciando muitas vezes a si mesma, em função de ser tão voltada a sua prole. Por conta disso, pode-se dizer que tanto na fase pré-natal como natal, este arquétipo está bem ativado. Apesar disso, as outras deusas também estão presentes, mas muitas vezes numa intensidade menor.
Afrodite por sua vez é a deusa do amor, que representa a sensualidade, a sexualidade, o belo, o corpo, o prazer. Também esta voltada para a procriação, mas não como Deméter que é mais focada na gravidez em si e no seu fruto, representada pelo bebê, mas sim na relação sexual propriamente dita e no prazer que é proporcionado a partir dela. Afrodite, enquanto arquétipo, também esta presente na gestação, algumas vezes cindido (separação santa X prostituta), mas outras, ativado.

Muitas mulheres têm a primeira experiência de orgasmo durante a gestação

Podemos compreender isso de duas maneiras:

a) Isso ocorre, porque com a vivência da maternidade, as mulheres assumem uma postura adulta, e se permitem uma sexualidade adulta (podem sentir prazer)
b) O arquétipo de Afrodite foi ativado pela gravidez, de forma que a mulher possa se sentir a vontade com sua própria sexualidade. Contudo, podemos resumir estas duas maneiras em uma: é como se o contato com Afrodite se desse com a gestação, de forma que este arquétipo foi ativado em conjunto com o de Deméter, sinalizando a potencialidade de integração de aspectos aparentemente contraditórios.


Fontes

(1) BOLEN, Jean Shinoda.
As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. Trad. Maria Lydia Remédio. São Paulo: Paulus, 1990.
(2) BROWN, Dan. O Código da Vinci. Trad. Celina Cavalcante. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
(3) JUNG, Carl Gustav. Memória, Sonhos e Reflexões. Trad. Dora Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 22ª edição.
(4) MALDONADO, Maria Teresa. Psicologia da Gravidez: Parto e Puerpério. São Paulo: Saraiva, 1999.
(5) MOREIRA, Maria Ignes Costa. Gravidez e Identidade do Casal. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.
(6) SOIFER, Raquel. Psicologia da Gravidez, parto e puerpério. Trad. Ilka Valle de Carvalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1980.


(TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA ELETRÔNICA VYA ESTELAR, COLUNA AMOR EM 2005)

5 de novembro de 2013

Como diz o ditado: Cada coisa é uma coisa

Desenvolver o workshop "Mulher: Desafios Contemporâneos", tem despertado muitas reflexões sobre os possíveis desdobramentos que esse encontro poderá propiciar.

Em paralelo, meu leque de atuação está em ampliação: agora além de Psicoterapeuta e Coach, em breve me tornarei Orientadora Profissional.

O workshop emergiu da combinação de dois fatores: 1. minha paixão em estudar e atuar no universo feminino e os desafios que nós mulheres enfrentamos diariamente; 2. demanda recorrente identificada no ICOP de mulheres que após a maternidade estavam repensando sua vida profissional. Foi do casamento dessas duas variáveis que o workshop nasceu.

E, assim como o nascimento de filho vira de ponta cabeça a vida de uma mulher, em minha fantasia, o workshop poderia aguçar, mobilizar questões relevantes na vida de alguma participante, que por sua vez, poderia vir a se interessar pelo acolhimento e elaboração de tais questões.

Prosseguindo em minha fantasia veio a dúvida: diante das três atuações, qual seria a mais indicada?

Eis que brotou em minha mente a seguinte metáfora que diferencia minhas três linhas de trabalho:

Imaginemos uma mulher que está em dúvida sobre qual roupa usar em uma determinada ocasião. Os anseios de tal mulher podem se resumir das seguintes maneiras:

1. Ela tem uma ideia, mas não sabe como escolher, como decidir diante de tantas possibilidades. Ou até sabe, mas não se sente segura para tomar essa decisão.  Neste caso, o mais apropriado é a Orientação Profissional, que é um processo focado no autoconhecimento direcionado para escolhas importantes que terão impacto no futuro.

2. Agora imaginemos que essa mulher saiba o que quer vestir, mas seu armário está tão bagunçado que ela não consegue encontrar nada! Neste caso, o mais indicado seria o Life Coaching, que tem por objetivo organizar áreas da vida através do desenvolvimento de competências específicas, no caso, organização.

3. Por fim, essa mulher não faz a menor ideia do que vestir, do que fazer. A bagunça está tão grande que ela não sabe nem por onde começar... Ai, entra a Psicoterapia, que tem por objetivo entender e elaborar emocionalmente o momento atual. Primeiro é preciso organizar as emoções, saber por onde começar, para daí sim organizar o armário e assim ficar mais fácil escolher com que roupa deve ir...

Todas as atuações tem sua relevância e importância, o enfoque dependerá de qual o momento e quais as questões que o possível cliente apresenta. Por isso o título, "Cada coisa é uma coisa".