8 de novembro de 2013

Como a gravidez afeta o casal

Por Lilian Loureiro

Com este artigo encerramos a série 'Gravidez e Sexualidade'. No primeiro falamos como a gravidez afetava as emoções da mulher, no segundo como afetava as emoções do homem e nesse terceiro falaremos como a gravidez afeta o casal.

No casal, a gravidez simboliza a "criança divina", fruto da transcendência entre o homem e a mulher. Precisamos ficar atentos para não cairmos num "psicologismo" e assim perdemos o caráter simbólico e transcendente da gravidez/sexualidade para o homem e a mulher.

A sexualidade não é restrita à função biológica, ela vai além do significado pessoal e biológico, uma vez que também encerra a função transcendente espiritual e luminosa que permite o contato com Deus (3). Esta era uma concepção muito comum na era pré-cristã, nas chamadas religiões pagãs, que acreditavam que o contado com Deus não se dava através de uma "instituição", mas sim por meio das coisas mais simples da natureza, incluindo aí, o sexo. 

Existiam rituais sagrados, como o "Hierogamos", em que o homem e a mulher se relacionavam sexualmente para se conectarem com Deus. Acreditava-se que no momento do orgasmo o homem conseguia manter a mente livre de pensamentos e assim conectava-se com Deus, sendo que a mulher era sagrada, por permitir tal conexão (2). Desta forma, a relação sexual era vista como sinônimo de comunicação e comunhão.

Com o cristianismo, tal concepção foi rompida, a mulher passou a ser mal vista pela sua sexualidade, e esta passou a ser vista como impura, suja, pecaminosa, indigna de mulher direita, e pior ainda, completamente dissociada da gravidez.

Tal dissociação infelizmente acaba interferindo no relacionamento do casal. O aspecto negativo da sexualidade está tão presente, que muitos casais ignoram completamente este contato durante a gestação (atuação de forma negativa das fantasias discutidas anteriormente), não se conectando com as divindades desta forma.

Há uma tribo indígena brasileira que habita a região do Mato Grosso do Sul, que acredita que o sêmen paterno é o alimento do embrião. Por conta disso, o sexo é praticado muitas vezes durante a gravidez, a fim de que o desenvolvimento da criança seja garantido (5).

O sexo durante a gestação dita normal, é excelente para todos os envolvidos: mãe/mulher, pai/homem, filho/integração, quando as fantasias que foram discutidas anteriormente ficam mais claras e conscientes, e tanto o homem e a mulher estão inseridos de forma plena nesta situação. Contudo, vale a pena ressaltar que o pré-natal é imprescindível para o acompanhamento da gestação. Há casos que "infelizmente" o "fazer amor" não é indicado.


Fontes:

(1) BOLEN, Jean Shinoda.
As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. Trad. Maria Lydia Remédio. São Paulo: Paulus, 1990.
(2) BROWN, Dan. O Código da Vinci. Trad. Celina Cavalcante. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
(3) JUNG, Carl Gustav. Memória, Sonhos e Reflexões. Trad. Dora Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 22ª edição.
(4) MALDONADO, Maria Teresa. Psicologia da Gravidez: Parto e Puerpério. São Paulo: Saraiva, 1999.
(5) MOREIRA, Maria Ignes Costa. Gravidez e Identidade do Casal. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.
(6) SOIFER, Raquel. Psicologia da Gravidez, parto e puerpério. Trad. Ilka Valle de Carvalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1980.


(TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA ELETRÔNICA VYA ESTELAR, COLUNA AMOR EM 2005)

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Lilian Loureiro