27 de agosto de 2014

Orientação Profissional: A jornada da semente - Um olhar junguiano

Há algum tempo venho refletindo sobre a interseção da Orientação Profissional e a Psicologia Analítica. Ainda não me detive ao trabalho de levantar trabalhos que debatam essa temática. Mas, cá com os meus botões, comecei a refletir a respeito.

O processo de orientação profissional é um processo de começo, meio e fim, que auxilia as pessoas no momentos de dúvidas quanto a escolha da profissão. Seja ela a primeira escolha, ou segunda, terceira, quando a pessoa já está inserido no mercado de trabalho e/ou já tem uma formação universitária e quer mudar o rumo. Este processo é calcado em três pilares: autoconhecimento, testes psicológicos e também pelo conhecimento da realidade profissional. Desta forma, a (re) orientação profissional serve como um instrumento de apoio à (re) escolha da carreira e tem por objetivo auxiliar nesta importante etapa de vida. 


Não existe um momento certo, ideal para que esse processo ocorra. É claro que é bastante comum que esse serviço seja procurado próximo ao vestibular, para que a escolha da profissão seja mais certeira. Mas, é garantido que farei a escolha certa para o resto da minha vida nesse momento? NÃO!

Garantia é um terreno arenoso nesse sentido. A psique é dinâmica. O que faz sentido hoje, pode não fazer amanhã. E, tudo bem ser assim! 

Às vezes focamos tanto nos resultados que não apreciamos, aprendemos e crescemos com o PROCESSO. E aí é que entra o olhar junguiano. Um olhar prospectivo que aponta as finalidades, os para quês dos fenômenos que vivenciamos e não os porquês.

Por mais que vivamos em tempos Hipermodernos, em que a velocidade e os resultados são as premissas básicas,  temos que dar tempo ao tempo. Uma maçã, não se torna maçã da noite para o dia. Enquanto semente, tem que encontrar um solo adequado para poder germinar. Nesse processo, tem que abdicar do seu centro seguro e acolhedor e começar uma tremenda transformação. Transformação esta que implica em dor, no sentido de suportar a escuridão do solo, romper a casca e sair em busca da luz. Para então se transformar em árvore, florescer e gerar frutos.

Metaforicamente, diria que quem busca a (re) orientação profissional é como uma semente, voando pelo vento à procura de um solo para germinar. No processo, estudamos os possíveis solos que existem, antecipamos e refletimos sobre as possíveis dificuldades que essa semente irá encontrar... Mas, suportar a escuridão, romper as barreiras da casca e buscar a sol é uma tarefa única e exclusiva da semente. Como orientadora, posso apenas regar o solo, ajudar a remover ervas daninhas que possam vir a atrapalhar o processo de germinação.

Jung diz que "... a trajetória da vida é tão individual que certamente nenhum conselheiro, por mais competente que fosse, poder-lhes-ia prescrever o único caminho certo. Por isso devemos fazer com que a própria alma da pessoa venha a falar, a fim de que esta compreenda a partir de seu próprio intimo, qual é a sua situação verdadeira."

Por isso, me sinto no dever de cuidar de cada processo de maneira singular. Cada necessidade é única. E é preciso estarmos atentos a isso. A semente pode sentir a necessidade de ficar mais tempo no solo, explorar os limites da casca, suportar a escuradão até que se acostume com ela, antes de romper rumo a luz. Tudo ganha um novo significado, que só o autoconhecimento é capaz de propiciar. Mas, se o foco for no resultado, no fazer a escolha certa no tempo certo, isso será perdido. 

Como jardineira, devo apenas respeitar e acompanhar. Pode ser que se tenha que dar uma pausa no processo para que essa semente desfrute de sua viagem interna. TUDO BEM!  Um novo contrato é estabelecido, a (re)orientação profissional faz uma pausa e o autoconhecimento passa ser explorado em um novo setting terapêutico. Afinal, como disse em tudo há uma finalidade maior e temos que respeitar o tempo de cada um:  "quem olha pra fora sonha, quem olha pra dentro acorda". (Jung)

Abraços,
Lilian Loureiro

13 de agosto de 2014

Dedo na ferida

Diante dos acontecimentos semanais, uma reflexão veio a mente: como é complicado percebemos lacunas e termos uma abordagem construtiva a partir delas.

Ninguém gosta de ter suas falhas apontadas, declaradas. Quando isso acontece, as defesas sobem com uma força descomunal e muito pouco pode ser feito quando as barreiras são instaladas.

Mas como lidar com isso? Me parece que o raciocínio clínico se aplica bem à construção desta fórmula: nunca podemos ir direto ao ponto, sem que um bom vínculo esteja formado. O VÍNCULO é o solo firme e segura para que as lacunas, falhas, pontos a serem desenvolvidos sejam apontados e explorados. Tarefa, esta que precisa ser temperada pelo otimismo, oportunidade de desenvolvimento ao explorar áreas que podiam ser deficitárias, ou até mesmo atrapalhar e/ou trabalhar contra o crescimento.

Mesmo tendo a fórmula desenha a partir do trabalho clínico, a transposição para o mundo dos negócios ainda não é tão simples. No curso do SEBRAE sobre "Planejamento Estratégico" muito foi explorado sobre a importância de se encontrar nichos no mercado, o que chamam de "Oceano Azul", mas como navegar por essas águas, eis a questão...

O barco está no mar e com o oceano não se brinca. Não há como prever que tipo de onda pode surgir. Não há solo firme, apenas água. Então, qual a base para a construção do vínculo? 

Quem tem a resposta para a atualização dessa fórmula são os surfistas: EQUILÍBRIO. Tem ondas grandes demais mais encarar, e aí o recuo é inevitável; em contrapartida há ondas que a princípio podem assustar, mas ao serem encaradas podem propiciar uma grande experiência. Seja ela qual for, sem equilibro não há quem pare em pé em cima de uma prancha. Seja recuando, seja encarando, para não se afogar tem que se equilibrar.

A lacuna está apontada, a fórmula pensada, agora é atualizá-la para as peculiaridades do desafio.