22 de fevereiro de 2010

Nova entrevista: Programa Show +

Quarta-feria, dia 24/02/10, particparei de uma nova entrevista.
Desta vez será na Rede TV +, canal 14 da NET ou 8 da TVA. Não sei se passa na tv aberta.
O nome do programa que participarei é Show +, programa diário de entrevistas conduzido por Darcio Arruda, no qual participam 3 profissionais de diferentes áreas para debater diferentes temas. Acontece todos os dias das 19h30 às 21hs. Não conhecia, mas parece ser bastante interessante.
O tema da vez será "Tenho um novo amor", terceiro programa da série sobre relacionamentos amorosos.
Vamos ver como será essa experiência. Quem sabe ainda nessa semana conto como foi...

Lilian Loureiro

17 de fevereiro de 2010

Imperfeição

Mais uma idéia de Rubem Alves que amei e compartilho. Trata de um assunto que trabalho muito com meus pacientes: sempre precisamos dar vazão e acolher o nosso lado "monstrengo". Por mais desagradável que isso seja, faz parte da nossa natureza termos lado sombrio. Quanto mais negamos esse lado, no intuito se sermos perfeitos, mais autonomia ele passa a ter sobre nos, aparecendo nos momentos menos oportunidos, com consequências catastróficas na maioria das vezes.
Conselho a Nelson Freire
(Ostra feliz não faz pérola - p. 26)
"Caro Nelson Freire: ao terminar de ouvir os dois concertos de Brahms interpretados por você, lembrei-me de um incidente que poderá lhe ser de grande valia. Bernard Shaw foi ouvir Jascha Heifetz. Chegando em casa, depois do concerto, escreveu-lhe uma carta imediatamente. O conteúdo era mais ou menos assim: "Prezado senhor Jascha Heifetz. Ouvi-o no concerto desta noite. Voltei para a casa profundamente preocupado. Porque tocando do jeito que o senhor toca é impossível que os Deus não se roam de ciúme - porque é certo que eles não conseguem tocar como o senhor. Eles sentirão inveja. E deuses invejosos são perigosos. Assim dou-lhe um conselho. De noite, antes de dormir, não faça suas orações costumeiras. Pegue seu violino e toque desafinado. Os deuses, ao ouví-lo, se sentirão aliviados na sua inveja e deixarão o senhor em paz. Atenciosamente, George Bernard Shaw". Nelson, faço meu o conselho de Shaw. Sozinho, de noite, em vez de rezar, toque mal, esbarre algumas notas, erre... Nenhum crítico o estará ouvindo. Mas os deuses estarão. E eles dormirão em paz e você dormirá em paz. Conselho de seu conterrâneo Rubem Alves." (Rubem Alves - Ostra feliz não faz pérola)
É mais saudável termos a consciência de que podemos e devemos desafinar, do corrermos o risco de nos expormos a ira dos deuses. Essa crônica ilustra metaforicamente nossa estrutura psiquica. Dentro de nós habitam deuses poderosos, que não aceitam pretenção de perfeição do ego. Eles são perfeitos, o ego não. Portanto, o ego deve reconhecer humildimente sua natureza humana e não desafiá-los, pois poderá não dar conta da punição. Fazemos isso ao reconhecer nosso lado monstrengo, quando sozinhos, no silêncio da noite assumimos que erramos, que não fomos totalmente honestos, entre tantos outros exemplos. Desta forma, tanto os deuses como o ego dormirão em paz, pois o ego estará integrando conscimente o lado "monstrengo".
Lilian Loureiro

10 de fevereiro de 2010

Voltei!!!

Caraca, quanto tempo que não escrevo...

Estava com saudades do meu blog, mas faltava inspiração. De setembro de 2009 pra cá muitas coisas maravilhosas aconteceram em minha vida e meu foco acabou sendo outro.

Como mencionei no meu primeiro post, fui fiel ao meu processo e não forcei. Mas hoje, lendo Rubem Alves a inspiração voltou. Compartilho um crônica dele, reflete maravillhosamente a emoção do retorno:

Inspiração
(Ostra feliz não faz pérola - p. 19)

"O livro do Eclesiastes adverte: "Um último aviso: escrever livros e mais livros não tem limite. E o muito estudo é enfado da carne..." Não obedeci. Escrevi muitos livros. É o jeito que tenho de brincar. Livros são brinquedos para o pensamento. De todos os que escrevi, acho que o que mais amo é A menina e o pássaro encantado. Escrevi para transformar uma dor em beleza. Eu ia me ausentar do Brasil por um período longo e a minha filha de quatro anos, a Raquel, estava inconsolável. As crianças têm uma sensibilidade especial. Sabem que toda ausência passageira é metáfora de uma ausência definitiva. Ela sofria e eu sofria com o sofrimento dela. Aí, de repente, veio a inspiração. Inspiração é quando a gente não sabe de onde a idéia vem. Na ciência é o contrário: é preciso explicar o caminho que se tomou para chegar à idéia. É esse caminho que tem o nome de método. Seguindo no mesmo caminho, qualquer outro cientista poderá chegar à mesma idéia. Na literatura é o contrário: o escritor não sabe de onde as idéias vêm. Portanto não se pode ensinar o caminho. Veja como Fernando Pessoa escreveu essa experiência: "Às vezes tenho idéias felizes, idéias subtamente felizes. Depois de escrever, leio... Por que escrevi isso? Onde fui buscar isso? De onde me veio isso? Isto é melhor do que eu...". A ciência é a caça de um pássaro definido de antemão que, depois de apanhado, será preso numa gaiola de palavras. Mas, a inspiração não é uma caça. A inspiração chega em momentos raros de distração. Picasso explicou o seu método: "Eu não procuro. Eu encontro...". Ou seja, a inspiração não tem método: o pássaro pousa no nosso ombro, sem que tivéssemos procurado e apenas nos espantamos de que ele seja assim tão bonito... Foi assim que me apareceu a a estória A menina e o pássaro encantado. Nela, uma menina não suportava a saudade, para impedir que seu pássaro voasse tratou de prendê-lo numa gaiola. Resultado: o pássaro encantado deixou de se encantado; perdeu as cores e esqueceu o canto. O pássaro só é encantado quando é livre. O sentido original da estória era claro: era uma estória para minha filha e para mim cujo objetivo era transformar dor em beleza. Mas aí aconteceu o inesperado: depois de publicado, os leitores passaram a ver sentidos novos que eu não havia visto: o livro começou a ser usado por terapeutas para lidar com casais em que cada um tentava engaiolar o outro. E estavam certos. Foi então que um amigo me disse: "Que linda estória você escreveu sobre Deus..." Ao que ele me disse: "Pois eu pensei que o pássaro encantado era Deus, que as religiões aprisionam em gaiolas...". Pode também ser... É impossível engaiolar o sentido. " (Rubem Alves - Ostra feliz não faz pérola)


Lilian Loureiro