Caraca, quanto tempo que não escrevo...
Estava com saudades do meu blog, mas faltava inspiração. De setembro de 2009 pra cá muitas coisas maravilhosas aconteceram em minha vida e meu foco acabou sendo outro.
Como mencionei no meu primeiro post, fui fiel ao meu processo e não forcei. Mas hoje, lendo Rubem Alves a inspiração voltou. Compartilho um crônica dele, reflete maravillhosamente a emoção do retorno:
Inspiração
(Ostra feliz não faz pérola - p. 19)
"O livro do Eclesiastes adverte: "Um último aviso: escrever livros e mais livros não tem limite. E o muito estudo é enfado da carne..." Não obedeci. Escrevi muitos livros. É o jeito que tenho de brincar. Livros são brinquedos para o pensamento. De todos os que escrevi, acho que o que mais amo é A menina e o pássaro encantado. Escrevi para transformar uma dor em beleza. Eu ia me ausentar do Brasil por um período longo e a minha filha de quatro anos, a Raquel, estava inconsolável. As crianças têm uma sensibilidade especial. Sabem que toda ausência passageira é metáfora de uma ausência definitiva. Ela sofria e eu sofria com o sofrimento dela. Aí, de repente, veio a inspiração. Inspiração é quando a gente não sabe de onde a idéia vem. Na ciência é o contrário: é preciso explicar o caminho que se tomou para chegar à idéia. É esse caminho que tem o nome de método. Seguindo no mesmo caminho, qualquer outro cientista poderá chegar à mesma idéia. Na literatura é o contrário: o escritor não sabe de onde as idéias vêm. Portanto não se pode ensinar o caminho. Veja como Fernando Pessoa escreveu essa experiência: "Às vezes tenho idéias felizes, idéias subtamente felizes. Depois de escrever, leio... Por que escrevi isso? Onde fui buscar isso? De onde me veio isso? Isto é melhor do que eu...". A ciência é a caça de um pássaro definido de antemão que, depois de apanhado, será preso numa gaiola de palavras. Mas, a inspiração não é uma caça. A inspiração chega em momentos raros de distração. Picasso explicou o seu método: "Eu não procuro. Eu encontro...". Ou seja, a inspiração não tem método: o pássaro pousa no nosso ombro, sem que tivéssemos procurado e apenas nos espantamos de que ele seja assim tão bonito... Foi assim que me apareceu a a estória A menina e o pássaro encantado. Nela, uma menina não suportava a saudade, para impedir que seu pássaro voasse tratou de prendê-lo numa gaiola. Resultado: o pássaro encantado deixou de se encantado; perdeu as cores e esqueceu o canto. O pássaro só é encantado quando é livre. O sentido original da estória era claro: era uma estória para minha filha e para mim cujo objetivo era transformar dor em beleza. Mas aí aconteceu o inesperado: depois de publicado, os leitores passaram a ver sentidos novos que eu não havia visto: o livro começou a ser usado por terapeutas para lidar com casais em que cada um tentava engaiolar o outro. E estavam certos. Foi então que um amigo me disse: "Que linda estória você escreveu sobre Deus..." Ao que ele me disse: "Pois eu pensei que o pássaro encantado era Deus, que as religiões aprisionam em gaiolas...". Pode também ser... É impossível engaiolar o sentido. " (Rubem Alves - Ostra feliz não faz pérola)
Lilian Loureiro
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Em breve retornarei.
Lilian Loureiro