3 de agosto de 2012

Discurso Steve Jobs

Discurso de Steve Jobs realizado em 12 de junho de 2005 aos formandos da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Nesse texto Jobs fala de sua vida, de sua opção por não cursar uma faculdade e no qual dá alguns conselhos aos estudante. Discurso profundo e marcante e repercute até hoje, sendo republicado e lembrado com frequência.

É preciso encontrar o que você ama"

"Estou honrado por estar aqui com vocês em sua formatura por uma das melhores universidades do mundo. Eu mesmo não concluí a faculdade. Para ser franco, jamais havia estado tão perto de uma formatura, até hoje. Pretendo lhes contar três histórias sobre a minha vida, agora. Só isso. Nada demais. Apenas três histórias.


A primeira é sobre ligar os pontos.

Eu larguei o Reed College depois de um semestre, mas continuei assistindo a algumas aulas por mais 18 meses, antes de desistir de vez. Por que eu desisti?

Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era jovem e não era casada; estava fazendo o doutorado, e decidiu que me ofereceria para adoção. Ela estava determinada a encontrar pais adotivos que tivessem educação superior, e por isso, quando nasci, as coisas estavam armadas de forma a que eu fosse adotado por um advogado e sua mulher. Mas eles terminaram por decidir que preferiam uma menina. Assim, meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam um telefonema em plena madrugada ¿"temos um menino inesperado aqui; vocês o querem?" Os dois responderam "claro que sim". Minha mãe biológica descobriu mais tarde que minha mãe adotiva não tinha diploma universitário e que meu pai nem mesmo tinha diploma de segundo grau. Por isso, se recusou a assinar o documento final de adoção durante alguns meses, e só mudou de idéia quando eles prometeram que eu faria um curso superior.

Assim, 17 anos mais tarde, foi o que fiz. Mas ingenuamente escolhi uma faculdade quase tão cara quanto Stanford, e por isso todas as economias dos meus pais, que não eram ricos, foram gastas para pagar meus estudos. Passados seis meses, eu não via valor em nada do que aprendia. Não sabia o que queria fazer da minha vida e não entendia como uma faculdade poderia me ajudar quanto a isso. E lá estava eu, gastando as economias de uma vida inteira. Por isso decidi desistir, confiando em que as coisas se ajeitariam. Admito que fiquei assustado, mas em retrospecto foi uma de minhas melhores decisões. Bastou largar o curso para que eu parasse de assistir às aulas chatas e só assistisse às que me interessavam.

Nem tudo era romântico. Eu não era aluno, e portanto não tinha quarto; dormia no chão dos quartos dos colegas; vendia garrafas vazias de refrigerante para conseguir dinheiro; e caminhava 11 quilômetros a cada noite de domingo porque um templo Hare Krishna oferecia uma refeição gratuita. Eu adorava minha vida, então. E boa parte daquilo em que tropecei seguindo minha curiosidade e intuição se provou valioso mais tarde. Vou oferecer um exemplo.

Na época, o Reed College talvez tivesse o melhor curso de caligrafia do país. Todos os cartazes e etiquetas do campus eram escritos em letra belíssima. Porque eu não tinha de assistir às aulas normais, decidi aprender caligrafia. Aprendi sobre tipos com e sem serifa, sobre as variações no espaço entre diferentes combinação de letras, sobre as características que definem a qualidade de uma tipografia. Era belo, histórico e sutilmente artístico de uma maneira inacessível à ciência. Fiquei fascinado.

Mas não havia nem esperança de aplicar aquilo em minha vida. No entanto, dez anos mais tarde, quando estávamos projetando o primeiro Macintosh, me lembrei de tudo aquilo. E o projeto do Mac incluía esse aprendizado. Foi o primeiro computador com uma bela tipografia. Sem aquele curso, o Mac não teria múltiplas fontes. E, porque o Windows era só uma cópia do Mac, talvez nenhum computador viesse a oferecê-las, sem aquele curso. É claro que conectar os pontos era impossível, na minha era de faculdade. Mas em retrospecto, dez anos mais tarde, tudo ficava bem claro.

Repito: os pontos só se conectam em retrospecto. Por isso, é preciso confiar em que estarão conectados, no futuro. É preciso confiar em algo - seu instinto, o destino, o karma. Não importa. Essa abordagem jamais me decepcionou, e mudou minha vida.

A segunda história é sobre amor e perda.

Tive sorte. Descobri o que amava bem cedo na vida. Woz e eu criamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhávamos muito, e em dez anos a empresa tinha crescido de duas pessoas e uma garagem a quatro mil pessoas e US$ 2 bilhões. Havíamos lançado nossa melhor criação - o Macintosh - um ano antes, e eu mal completara 30 anos.

Foi então que terminei despedido. Como alguém pode ser despedido da empresa que criou? Bem, à medida que a empresa crescia contratamos alguém supostamente muito talentoso para dirigir a Apple comigo, e por um ano as coisas foram bem. Mas nossas visões sobre o futuro começaram a divergir, e terminamos rompendo - mas o conselho ficou com ele. Por isso, aos 30 anos, eu estava desempregado. E de modo muito público. O foco de minha vida adulta havia desaparecido, e a dor foi devastadora.

Por alguns meses, eu não sabia o que fazer. Sentia que havia desapontado a geração anterior de empresários, derrubado o bastão que havia recebido. Desculpei-me diante de pessoas como David Packard e Rob Noyce. Meu fracasso foi muito divulgado, e pensei em sair do Vale do Silício. Mas logo percebi que eu amava o que fazia. O que acontecera na Apple não mudou esse amor. Apesar da rejeição, o amor permanecia, e por isso decidi recomeçar.

Não percebi, na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. O peso do sucesso foi substituído pela leveza do recomeço. Isso me libertou para um dos mais criativos períodos de minha vida.

Nos cinco anos seguintes, criei duas empresas, a NeXT e a Pixar, e me apaixonei por uma pessoa maravilhosa, que veio a ser minha mulher. A Pixar criou o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é hoje o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. E, estranhamente, a Apple comprou a NeXT, eu voltei à empresa e a tecnologia desenvolvida na NeXT é o cerne do atual renascimento da Apple. E eu e Laurene temos uma família maravilhosa.

Estou certo de que nada disso teria acontecido sem a demissão. O sabor do remédio era amargo, mas creio que o paciente precisava dele. Quando a vida jogar pedras, não se deixem abalar. Estou certo de que meu amor pelo que fazia é que me manteve ativo. É preciso encontrar aquilo que vocês amam - e isso se aplica ao trabalho tanto quanto à vida afetiva. Seu trabalho terá parte importante em sua vida, e a única maneira de sentir satisfação completa é amar o que vocês fazem. Caso ainda não tenham encontrado, continuem procurando. Não se acomodem. Como é comum nos assuntos do coração, quando encontrarem, vocês saberão. Tudo vai melhorar, com o tempo. Continuem procurando. Não se acomodem.

Minha terceira história é sobre morte.

Quando eu tinha 17 anos, li uma citação que dizia algo como "se você viver cada dia como se fosse o último, um dia terá razão". Isso me impressionou, e nos 33 anos transcorridos sempre me olho no espelho pela manhã e pergunto, se hoje fosse o último dia de minha vida, eu desejaria mesmo estar fazendo o que faço? E se a resposta for "não" por muitos dias consecutivos, é preciso mudar alguma coisa.

Lembrar de que em breve estarei morto é a melhor ferramenta que encontrei para me ajudar a fazer as grandes escolhas da vida. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo do fracasso - desaparece diante da morte, que só deixa aquilo que é importante. Lembrar de que você vai morrer é a melhor maneira que conheço de evitar armadilha de temer por aquilo que temos a perder. Não há motivo para não fazer o que dita o coração.

Cerca de um ano atrás, um exame revelou que eu tinha câncer. Uma ressonância às 7h30min mostrou claramente um tumor no meu pâncreas - e eu nem sabia o que era um pâncreas. Os médicos me disseram que era uma forma de câncer quase certamente incurável, e que minha expectativa de vida era de três a seis meses. O médico me aconselhou a ir para casa e organizar meus negócios, o que é jargão médico para "prepare-se, você vai morrer".

Significa tentar dizer aos seus filhos em alguns meses tudo que você imaginava que teria anos para lhes ensinar. Significa garantir que tudo esteja organizado para que sua família sofra o mínimo possível. Significa se despedir.

Eu passei o dia todo vivendo com aquele diagnóstico. Na mesma noite, uma biópsia permitiu a retirada de algumas células do tumor. Eu estava anestesiado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células ao microscópio começaram a chorar, porque se tratava de uma forma muito rara de câncer pancreático, tratável por cirurgia. Fiz a cirurgia, e agora estou bem.

Nunca havia chegado tão perto da morte, e espero que mais algumas décadas passem sem que a situação se repita. Tendo vivido a situação, posso lhes dizer o que direi com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito útil mas puramente intelectual.

Ninguém quer morrer. Mesmo as pessoas que desejam ir para o céu prefeririam não morrer para fazê-lo. Mas a morte é o destino comum a todos. Ninguém conseguiu escapar a ela. E é certo que seja assim, porque a morte talvez seja a maior invenção da vida. É o agente de mudanças da vida. Remove o velho e abre caminho para o novo. Hoje, vocês são o novo, mas com o tempo envelhecerão e serão removidos. Não quero ser dramático, mas é uma verdade.

O tempo de que vocês dispõem é limitado, e por isso não deveriam desperdiçá-lo vivendo a vida de outra pessoa. Não se deixem aprisionar por dogmas - isso significa viver sob os ditames do pensamento alheio. Não permitam que o ruído das outras vozes supere o sussurro de sua voz interior. E, acima de tudo, tenham a coragem de seguir seu coração e suas intuições, porque eles de alguma maneira já sabem o que vocês realmente desejam se tornar. Tudo mais é secundário.

Quando eu era jovem, havia uma publicação maravilhosa chamada The Whole Earth Catalog, uma das bíblias de minha geração. Foi criada por um sujeito chamado Stewart Brand, não longe daqui, em Menlo Park, e ele deu vida ao livro com um toque de poesia. Era o final dos anos 60, antes dos computadores pessoais e da editoração eletrônica, e por isso a produção era toda feita com máquinas de escrever, Polaroids e tesouras. Era como um Google em papel, 35 anos antes do Google - um projeto idealista e repleto de ferramentas e idéias magníficas.

Stewart e sua equipe publicaram diversas edições do The Whole Earth Catalog, e quando a idéia havia esgotado suas possibilidades, lançaram uma edição final. Estávamos na metade dos anos 70, e eu tinha a idade de vocês. Na quarta capa da edição final, havia uma foto de uma estrada rural em uma manhã, o tipo de estrada em que alguém gostaria de pegar carona. Abaixo da foto, estava escrito "Permaneçam famintos. Permaneçam tolos". Era a mensagem de despedida deles. Permaneçam famintos. Permaneçam tolos. Foi o que eu sempre desejei para mim mesmo. E é o que desejo a vocês em sua formatura e em seu novo começo.

Mantenham-se famintos. Mantenham-se tolos.
Muito obrigado a todos."

Fonte: site da Universidade de Stanford
Tradução: Paulo Migliacci ME

Ligando os pontos

No post passado escrevi sobre a vivência de turbulência, quando a vida nos prega uma peça e tira tudo do lugar. Dando sequência à essa reflexão, gostaria de abordar o tema pós furacão, quando a poeira começa a disipar-se e a nova paisagem se acomodar, nos dando a possibilidade de ver como o novo panorama ficou e assim buscar um compreensão maior dessa experiência tão avasaladora.

Steves Jobs em seu memorável discurso como paraninfo aborda lindamente essa questão:
"(...) Na época, o Reed College talvez tivesse o melhor curso de caligrafia do país. Todos os cartazes e etiquetas do campus eram escritos em letra belíssima. Porque eu não tinha de assistir às aulas normais, decidi aprender caligrafia. Aprendi sobre tipos com e sem serifa, sobre as variações no espaço entre diferentes combinação de letras, sobre as características que definem a qualidade de uma tipografia. Era belo, histórico e sutilmente artístico de uma maneira inacessível à ciência. Fiquei fascinado.
Mas não havia nem esperança de aplicar aquilo em minha vida. No entanto, dez anos mais tarde, quando estávamos projetando o primeiro Macintosh, me lembrei de tudo aquilo. E o projeto do Mac incluía esse aprendizado. Foi o primeiro computador com uma bela tipografia. Sem aquele curso, o Mac não teria múltiplas fontes. E, porque o Windows era só uma cópia do Mac, talvez nenhum computador viesse a oferecê-las, sem aquele curso. É claro que conectar os pontos era impossível, na minha era de faculdade. Mas em retrospecto, dez anos mais tarde, tudo ficava bem claro.
Repito: os pontos só se conectam em retrospecto. Por isso, é preciso confiar em que estarão conectados, no futuro. É preciso confiar em algo - seu instinto, o destino, o karma. Não importa. Essa abordagem jamais me decepcionou, e mudou minha vida.(...)" (Steve Jobs, 2005)

Ligar os pontos implica em retrospecto, olhar para o passado e dar uma nova cara a ele. Significa ressignificar, dar novo sentido, entender dentro de uma perspectiva mais ampla.

Olhando para cada lembrança, experiência vivida, furacões enfrentados, as coisas começam a tecer um sentido. Steve Jobs exemplifica isso contado a experiência de sacrifício (faculdade) e experimentação (curso) de algo que naquele momento não fazia o menor sentido, mas que algo dentro dele sugeria que experimentasse, nem que fosse pelo mero prazer de lidar com o belo. Ressignificando as intempéries dentro de uma perspectiva mais abrangente, Jobs constroi um novo significado, significado este mais criativo e com ótimo senso de humor! O que seria do Windows sem o Mac... Além desta história, Jobs conta outras, com o mesmo efeito marcante e transformador. Vale a pena ler seu discurso na íntegra.

Esta é uma lição de vida que devemos incorporar. Como junguiana sempre digo "em tudo há uma finalidade maior" e para compreender essa finalidade precisamos olhar para nossa história de vida com a perspectiva de que cada experiencia representa um potinho esperando o momento certo de ser ligado ao todo maior. Essa ressignificação é importantíssima para o processo de individuação (autoconhecimento), pois nos liberta da sensação de sermos reféns da vida e nos devolve o comando de nossa narrativa. Ao ligarmos os pontos temos recursos para prosseguir de forma mais criativa, como Jobs brilhantemente exemplificou.

Portanto, diante do furacão o importante é ter fé, é acreditar que essa experiência tem um significado mais profundo e que no momento certo os pontos serão ligados para que esse novo sentido se apresente. A escolha da imagem deste post não foi aleatória. A mandala é simbólo sagrado que representa a totalidade, a integração. Há um centro ao redor do qual tudo se organiza, onde os pontinhos são ligados, exatamente como ocorre no processo de individuação.

Então, um convite: que tal brincar um pouquinho de ligar os pontos? Quem em sua infância nunca brincou? Pena que a vida adulta com todas as responsabilidades inerentes acaba ajudando a esquecer coisas tão simples, mas tão importantes, capazes de deixar a vida bem mais leve... Boa brincadeira aos que tiverem coragem de brincar!

PERSONA: quando a máscara pode nos sufocar

Não canso de assistir "Cisne Negro". Acho um filme sensacional que aborda de maneira bela e profunda o que aparece dia-a-dia nos consultórios de psicologia e que podemos observar corriqueiramente pelas ruas.
 
Persona vem do latim e significa máscara. Na vida vestimos infinitas máscaras. No caso de uma mulher, vestimos a persona de filha, amiga, irmã, profissional, esposa, mãe, avó, entre tantas outras. E é assim que deve ser. Cada situação pede uma persona diferente. Como roupa, por exemplo, não dá para trabalhar num escritório de moletom e tênis, não é apropriado. O ambiente corporativo pede algo pouco mais formal. Com persona também é assim, devemos vestir a máscara condizente com a situação. Quando estamos na função mãe, somos mães, mas pode ocorrer de eventualmente uma função se sobrepor à outra. Quando isso ocorre eventualmente não há problema. O problema ocorre quando essa sobreposição vira regra e não excessão. Às vezes sem que percebamos um determinado papel domina as nossas vidas, deixando de lado tantos outros importantes. Um exemplo muito comum é de mulheres que abandonam tudo ao se tornarem mães. Deixam de lado a vida profissional, amorosa e conjugal. Vivem única e exclusivamente para ser mães. Quando isso ocorre é  como se se determinada persona grudasse na pele, sem que a deixe respirar, sufocando tantas outras possibilidade de existir.

No filme em questão é o que acontece. A bailarina linda e perfeita, de tão perfeita começa a craquelar. A psique tem a função de auto-regulação. Se uma polaridade ficar demais em evidência, a polaridade oposta cedo ou tarde clamará por espaço e fará a gangorra reverter. No filme é isso que ocorre. No momento de um grande passo profissional, o ego enclausurado na "persona da bailarina perfeita" não dá conta e sucumbi, trazendo à tona seu lado sombrio.


Somos perfeitos sim, mas também somos imperfeitos. Amamos, mas somos capazes de odiar. Ajudamos os outros, mas prejudicamos também. Acertamos muito, mas erramos. E no balanço final, tudo bem! Afinal, somos humanos e contraditórios por natureza! E mais, como diria Caetano... de perto, ninguém é normal...

Nossos complexos primitivos e inconscientes são a fonte de nossa fraqueza; mas com freqüência são também a fonte de nossa força. O importante é tomar consciência de tais complexos, trazendo-os para o campo da consciência para que assim trabalhem a nosso favor e não contra nós mesmos, como ocorre no filme. A Sombra precisa ser integrada à consciência e não reprimida. Para quem não assistiu, recomendo! Quem já assistiu, que tal ver novamente com a ótica da persona/sombra. Um abraço e até mais.
 

24 de julho de 2012

Eros e Narciso: A ebulição das forças anímicas



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v. 30 n. 69 Abr./Jun. 2012


DOI: 10.7213/psicol.argum.5968
Eros e Narciso: A ebulição das forças anímicas Eros and Narciso: Ebulition of the animic forces
Fernanda Menin 1
Lilian Loureiro 2
Milena Neri Guarnieri 3
Noely Montes Moraes 4
Resumo

Do ponto de vista psicodinâmico, o narcisismo expressa uma inflação egoica – situação que impede a consciência de reconhecer a alteridade. Algumas relações e situações sociais espelham essa condição, constituindo-se de projeções mútuas em que a preservação da imagem(persona) exige a exclusão de aspectos incompatíveis, depositando-os no Outro.Esta dinâmica impede a aproximação de Eros, pois não há o reconhecimento do Outro, a não ser como espelho. Não há quem discorde que nossa época apresenta alterações profundas no modo de se vivenciar as experiências humanas fundamentais. Valores, costumes, relacionamentos,tudo que vivemos parece irreconhecível para alguém do começo do século XX. Neste trabalho, pretendemos apontar a função da dinâmica narcísica como etapa necessária ao processo de individuação, pois tem por finalidade permitir o reconhecimento e posterior integração de aspectos negligenciados pela persona. Utilizando o mito de Narciso, a partir da amplificação simbólica, refletimos a respeito das possibilidades criativas trazidas pelo sacrifício/transformação/morte de Narciso: o abandono do contato superficial com a imagem refletida conduz à vivência da identidade profunda representada pelo enraizamento no Self (a transformaçãoem flor), abrindo espaço para a aproximação de Eros. Buscamos traçar paralelos desse caminho transformador/criativo com a condição contemporânea, arriscando vislumbrar saídas para o indivíduo e para o coletivo.

Palavras-chave : Narcisismo. Individuação. Contemporaneidade. Alteridade. Relação amorosa.
Abstract

From the psychodynamic perspective, narcissism expresses an egoic inflation – a situation thatprevents conscience to recognize the otherness. Some relationships and social situations reflectthis condition, consisting of mutual projections where the preservation of the image (persona)requires the exclusion of incompatible features, depositing them in the Other. This dynamicsprevents the approach of Eros, because there is no recognition of the Other, unless as a mirror.There’s no one who disagrees that our time has shown profound changes in the way of livingthe fundamental human experiences. Values, ways of doing, relationships, everything that welive now is hard to be recognized by anyone from the early twentieth century. In this work, weintend to show the role of narcissistic dynamics as a necessary step in the individuation process, as it is intended to enable the recognition and further integration of neglected aspects by one’spersona. Using the myth of Narcissus, from a symbolic amplification, we reflected on the creativepossibilities brought by the sacrifice/transformation/death of Narcissus: the abandonment of superficialcontact with the mirror image leads to the experience of profound identity representedby the deepening of roots in the Self (the transformation into a flower), making room for Eros’approach. We seek to draw parallels between this transformer/creative process with the contemporarycondition, trying to find a scape way for the individual and for the collective.

Keywords : Narcissism. Individuation. Contemporary. Otherness. Love relationship

1 Psicóloga clínica, psicoterapeuta e pesquisadora do grupo SEJA,São Paulo, SP- Brasil,e-mail: femenin@ig.com.b
2 Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC-SP),psicoterapeuta, pesquisadora do grupo SEJA, São Paulo, SP- Brasil, e-mail: lilianloureiro@uol.com.br
3 Psicóloga clínica, pós-graduanda pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(COGEAE/PUC-SP), pesquisadora do grupo SEJA, São Paulo, SP- Brasil, e-mail: milguarnieri@hotmail.com
4 Professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC-SP),vice-diretora da Clínica Psicológica Anna Maria Poppovi,psicoterapeuta e coordenadora do grupo SEJA, São Paulo, SP- Brasil, e-mail:noelymontes@yahoo.com.br

Recebido em 06/10/2009; Aceito em 10/06/2009.
Received in ; Accepted in .
[pdf]
OAI-ID: oai:pa.pucpr.br:article/5968
link: http://www2.pucpr.br/reol/index.php/PA?dd1=5968&dd99=view

20 de julho de 2012

Olho do furacão

Fico chocada com o potencial de mudança/transformação que nossas vidas tem. Em um momento temos a rédia e direcionamos nossa vida mediante o nosso desejo. No mintuto seguinte a roda gira e ficamos quase inertes, à merce das intempéries. Porque isso?

Tenho o "privilégio" de ser junguiana, abordagem teórica que me escolheu e me acolheu e que com sua visão prospectiva e simbólica me ajuda a entender fenômenos e acontecimentos em termos de algo maior. Em tudo há uma finalidade, um para quê, um caminho sendo apontando. A questão inicial, desta forma, deve ser reformulada: retiramos o porque e substituimos por para quê tantas intempéries?

No olho do furacão não conseguimos vislumbrar respostas. Tudo gira tanto que saimos do eixo, ficamos sem prumo. Se perceber fica difícil, quanto mais aquilo que está ao nosso redor. É muito difícil, mas se conseguirmos manter a calma, ter paciência e sabedoria para perceber que esse chacoalhão tem uma finalidade maior, parece que somos acolhidos. Mesmo girando feito loucos, vendo casa, carros, vacas, voando longe, tal qual a famosa imagem do filme "O mágico de Oz", é como se estivéssemos num colo acolhedor que diz, "calma, vai passar. Isso tudo está acontecendo, pois essas coisas precisam mudar de lugar. Onde estavam, não serve mais. Só lhe resta esperar a poeira abaixar para vislumbrar a nova paisagem que se instalará. Paisagem esta, que não necessariamente será de destruição, pelo contrário, será paisagem de novas perspectivas... Com um layout novo, diferente. Aquilo que não tinha espaço, ou não era percebido, pode aparecer. Padrão velho morrendo para que o novo possa nascer..."

11 de julho de 2012

Orientação Profissional: Desvendando nossos próprios obstáculos

OBJETIVO: Ajudar no processo de autoconhecimento, seja ele no sentido de identificar e fortificar nossas potencialidades, seja no sentindo tão ou mais nobre quanto, que é desvendar nossos obstáculos internos. Aqueles aspectos ocultos e desconhecidos que atuam sobre nós minando nosso crescimento pessoal e profissional. DESCRIÇÃO: 5 encontros que irão variar de 1 a 2 horas de duração, dependendo da finalidade e que poderão ser estendidos, se houver necessidade, mediante contratação de sessões adicionais. Aplicação de dois instrumentos, um psicológico (QUATI _ Questionário de Avaliação Tipológica) e outro comportamental (Método Birkman). 1º encontro (2hs): entrevista e aplicação do QUATI Intervalo entre 1º e 2º encontro: envio do link do questionário Birkman 2º encontro (1h): Devolutiva QUATI 3º encontro: (2hs): Devolutiva Birkman 4º encontro (1h30): organização dos insights provocados pelas devolutivas dos instrumentos; exercício de heteropercepção. 5º encontro (1h30): Fechamento e avaliação. MAIORES INFORMAÇÕES: lilianloureiro@uol.com.br

Quem é vivo, sempre aparece...

Como diz o ditado, quem é vivo sempre aparece... e após uma longa ausência, VOLTEI! Tudo tem seu tempo, por isso é muito importante respeitarmos o nosso. Foi o que fiz. Meu blog jamias foi esquecido, mas não tinha como alimentá-lo como gostaria. Entre alimentá-lo com qualquer coisa e nada, optei pela hibernação. O incrível é que está acordando em pleno inverno. Um inverno frutífero, com muitas sementes sendo plantadas. Afinal, só assim é que teremos a possibilidade de colher lindas flores na primaveira... E esse é e será meu inverno: tempo de semear!