29 de junho de 2016

Equipes tipo Tênis X Equipes tipo Frescobol

Hoje gostaria de refletir sobre um tema de extrema importância para o mundo organizacional: EQUIPES. Quem é líder sabe a dificuldade de se construir uma equipe coesa, com um propósito em comum, direcionando todo esforço para a necessidade do grupo e não em interesses individuais.  Os desafios são inúmeros, as diferenças entre os membros muitas vezes gritantes, de forma que muitas vezes o líder se vê num beco sem saída! Como contornar a situação? O que fazer para diminuir o foco negativo nas diferenças e tirar proveito delas?
Em função de atendimentos de alguns coachees e refletindo a esse respeito, lembrei-me de um texto de Rubem Alves que adoro e no qual fala sobre o casamento. Trabalho com muitos cônjuges este texto, mas me dei conta de que é possível fazermos uma amplificação simbólica e no lugar do casamento substituirmos por EQUIPE!
O texto em questão chama-se Tênis X Frescobol (já postado no Blog em 21 de janeiro de 2016 - http://lilianloureiro.blogspot.com.br/2016/01/tenis-x-frescobol-rubem-alves.html). Nele, Rubem destaca que existem dois tipos de casamentos: os do tipo tênis e do tipo frescobol. Eis a definição que o autor apresenta:
“(..) Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
(…) Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis.”
Possível trocar casamento por equipe, não?!
Quantas não são as equipes que jogam tênis entre seus membros? Um querendo aproveitar-se do ponto fraco do outro como arma para tirá-lo da jogada e o mérito ser todo seu…??? Equipes com tal perfil são compostas por pessoas auto-centradas demais e que não conseguem perceber que todos ali estão jogando o mesmo jogo… se um perder TODOS perderão, pois os resultados esperados terão maior probabilidade de ficar aquém do esperado… Enquanto que equipes concorrentes que jogam frescobol se esforçam para corrigir jogadas “tortas”, pois o objetivo principal é manter a bola em jogo internamente.
Jogar tênis só fora, com os concorrentes. Em casa, que tal ficar com a diversão do frescobol…?
Seguindo com as palavras de Rubem Alves…
“Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
Acredito que seja uma ótima metáfora para líderes desenvolverem a relevância da coesão e dos propósitos em comum com suas equipes.

Ótima tarde e jogo de frescobol! ;)