20 de setembro de 2017

Quando o chamado bate à porta... #sqn o interfone está quebrado!

A vida e seus desafios... como a maioria sabe, estou grávida, quase 27 semanas para ser mais exata, me sentindo plena, ativa, produtiva, numa das melhores fase da minha vida... pelo menos estava.

Em agosto, me achei! Meu "ego" inflou: dei conta com muito fôlego de tantas coisas: viagens, congresso, aulas, família... sem me cansar. Uau! Que gravidez é essa que me dá energia de sobra!!! 
Como diz a piadinha junguiana: "tem muito ego se achando Self..." minha pretensão "wonder woman" estava prestes a se abalar.

Há uns 2 meses atrás o telefone do consultório apresentou problema: ficou mudo, não recebia e nem fazia chamada; em seguida foi a internet, que chegou a me deixar na mão, literalmente...
Cansada resolvi, no entremeio de viagens, trocar de operadora. Maravilha: internet de alta velocidade e telefone funcionando! Alegria durou pouco... ao cobrir um santo, outro foi descoberto. Ao desligar uma operadora para ligar outra, o fio do interfone foi cortado por engano.

Que símbolo estaria aí presente, que há mais de dois meses atrás eu desconsiderei...?

A bateria da "wonder woman" descarregou. Semana passada enfrentei um sacrifício doído, muito doído. Meu corpo deu sinais de que não estava mais dando conta do ritmo frenético, produtivo e acelerado e sucumbiu. Na marra, a força e aos gritos me fez parar.

Para uma capricorniana "workholic", que ama trabalhar,  ter que deliberadamente desmarcar dois dias de consultório e aulas não é nada fácil. Doeu, aí como doeu pegar o telefone que voltou a funcionar e ligar para os pacientes desmarcando um a um a sessão; falar com RH, coordenação da faculdade e elaborar atividade compensatória para não prejudicar o cronograma de aulas...

Me vi humana, grávida, doente e precisei e reconhecer e respeitar os limites do meu corpo. Constatei mais vez que querer não é poder!

Aceitei que claro que gravidez é saúde e não doença, que grávida não é café com leite, mas que a partir do momento em que o corpo adoece, por um bobo resfriado que seja, os cuidados são outros... e precisam ser. Outros fatores estão em jogo.

Eis que três dias de repouso me permitem muitas reflexões: sobrou energia psíquica para isso.

Ah, Psicologia Analítica, abordagem que me arrebatou e me escolheu. Através dela acolho meus pacientes e como me acolho também. Seu olhar simbólico é acolhedor, reconfortante. Traz sentido, significado, direção. Ao propor-se a isso, traz paz e serenidade...

Nossa psique é um sistema relativamente fechado. A energia psíquica se move em direção à progressão (movimento para fora) e a regressão (movimento para dentro).

Telefone sem linha, internet inoperante, interfone quebrado... parece que simbolicamente a vida está me mostrando que o tempo de agora não é de progressão, de movimento para fora, de construção, ampliação, apesar de tentadoramente me apresentar muitas perdições: atipicamente desde que decidi não aceitar nada novo, muitos clientes e pacientes estão procurando atendimento, tenho recebido convites de trabalho. Chutar cachorro morto é fácil, sacrificar o belo não! E era assim que estava lidando com minhas renúncias, consciente de que não era hora de começar nada novo, mas de direcionar a libido ao que já estava em andamento...

Ao que tudo indica, no entanto, ainda não estava no modo suficiente... minha libido ainda estava em progressão e a hora é de voltar-se para dentro.

O chamado pode até bater à porta, mas sem interfone, não posso ouvir. E tenho que me render e aceitar!

Estou em um momento de minha vida de profunda transformação. Tenho certeza que dentro desse propósito, minha vivência, minha limitação pode vir a agregar nos processos que cuido e acompanho.
Em breve entrarei em licença e quando retornar em março de 2018, serei uma nova pessoa.

Me entregar ao meu processo é permitir que meus pacientes se entreguem ao seus! Isso é o que me consola!!! Devemos estar uma sessão à frente!

E vamos que vamos, dançando conforme a música e aprendendo a cada dia. Não é hora de atender, mas de retrair...

Ótima tarde!