2 de agosto de 2016

Protagonista da própria história ou refém das circunstâncias?


Aniversários me deixam nostálgica. Inevitável fazer balanços de como era há 1, 2, 3, 4 anos atrás e como está agora...

Comecei a refletir sobre o aniversário de 1 anos de consultório novo, mas o Face com suas recordações me fez voltar no tempo, há 4 anos atrás ...

Explico-me: há 4 anos atrás estive pela primeira vez em Curitiba, oportunidade para conhecer a cidade com grande potencial para vir morar. Na época achei a cidade muito bonita, limpa, organizada, mas não me senti tocada por ela. Meu filho era bebê, o hotel onde estávamos hospedados era próximo à Praça do Japão e resolvi visitá-la. Fiquei horrorizada com a dificuldade para atravessar a rua, no caso a Visconde de Guarapuava, ainda mais com um carrinho de bebê! A tal da via rápida que deixa o trânsito de veículos fluido, dificulta a vida do pedestre. Ninguém para, o fluxo de carros é constante. Uma verdadeira saga... Lembro de ter sido tomada pelo pensamento: “quero minha Sampa!!!, aqui é lindo, mas lá quando preciso atravessar a rua os carros param...”

Alguns meses após essa visita tive que me “render” ao desafio de enfrentar o trânsito de Curitiba e atravessar suas ruas para chegar aos destinos que almejava... Marido mudou-se em outubro e em dezembro de 2012 viria eu com literalmente a “casa toda”.

Protagonista da minha história ou refém da circunstância? Como diriam os mineiros “eita desafio difícil esse soh”: Deixar minha cidade natal, a qual estava absolutamente adaptada, muito bem instalada, feliz da vida, num dos melhores momentos da minha vida pessoal e profissional para mudar-me para uma cidade desconhecida, com fama de ser fria tanto no sentido térmico, quanto humano, das pessoas não olharem na sua cara quando você dá bom dia e que tinha me deixado uma péssima impressão na forma como os motoristas dirigem por aqui...

Confesso que por um tempo fui refém! Abram espaço porque meu ego quer e precisa espernear!!! Chorei, briguei, questionei, me entreguei ao estado de “sofrência”, nada mais justo afinal! Seria exigir demais num primeiro momento do meu “pobre eguinho” desamparado e que teve que abdicar de tantas coisas. E sim, um luto bem vivido faz toda diferença!

Passada a crise, veio a reflexão: “continuar sofrendo me levará a algum lugar?” Sim, com licença que vou ali no banheiro cortar os pulsos e já volto...  Não, esse lugar não era opção, principalmente quando se tem filho para criar. Outra opção, viver comparando uma cidade à outra..., acho que também não...

Não teve jeito, precisei de muita, mas muita paciência mesmo para conseguir atravessar a “rua Curitiba” para conhecer seus encantos, possibilidades e potencialidades, suportar o frio e sentir o calor humano que emana daqui. Mas nada disso poderia ser vislumbrado enquanto o apego ao conhecido e seguro ocupasse todo o espaço da minha mente.

Tornar-se protagonista dá uma trabalheira danada... Mas, no começo, o que mais tinha era tempo, e quando digo tempo é literal e não simbólico.  Em meu primeiro compromisso médico do outro lado da cidade me preparei para sair com o máximo de antecedência, afinal o trânsito é imprevisível, acidentes com motos são frequentes de onde venho e um trajeto de 15 minutos pode virar 50 min com facilidade. Considerando ainda que teria que “atravessar” a cidade, meu deus... Sai com exatos 1 hora e 15 minutos de casa e quando cheguei à consulta tinha 1 hora sobrando: o que fazer??? “Que trânsito é esse meu deus, que não me deixa atravessar a rua, mas que me permite chegar aos lugares mais distantes com tempo de sobra...???”

Tantas coisas para re-significar... de fato a fase de “sofrência” estava dando espaço para a fase de re-significação.

Nesse ponto da história ter feito a formação em Coaching foi divisor de águas em minha vida. Antes de aplicar qualquer técnica aprendida em meus clientes, fui minha própria cobaia e vivenciei na pele o valor que o processo tem. O que não me fez ou faz menos psicóloga clínica, tampouco junguiana. Pelo contrário, potencializou ainda mais minha forma de olhar e lidar com tudo isso. Desde o início conseguia vislumbrar que existia uma finalidade maior em toda essa experiência, por mais difícil e sofrida que estivesse sendo, mas o dia-a-dia estava difícil de suportar. Não fazia ideia de onde me levaria, mas tinha certeza absoluta que chegaria a algum lugar, não só em Curitiba, mas em minha alma.

Pois bem, sigamos com a história e com a técnica de coaching que apliquei em mim mesma, no caso “Coaching de Adversidade”. Passada a fase de AUTO-OBSERVAÇÃO e constatação do estado de “sofrência” no qual me encontrava cheguei à fase de CONTROLE: “o que estaria ao meu alcance controlar? O que poderia fazer para deixar de ser vítima das circunstâncias...?”  Comecei a explorar a cidade, dirigir e caminhar por suas ruas, conhecer novos caminhos e destinos, assim como entrar em contato com algumas pessoas que já conhecia (sem sucesso algum, diga-se de passagem. Pausa para mais uma etapa de sofrência, desta vez mais rápida, graças a deus! Afinal, não há corpo que aguente...), pesquisar por outras pessoas, que não fazia ideia de quem eram e me apresentar, com a maior cara de pau... E não é que comecei a colher os frutos de Curitiba: sim, sou capaz de ser cara de pau! Em SP nunca precisei ser. Esta competência não existia lá, foi desenvolvida aqui! Fui percebendo, reconhecendo e assumindo o que eu poderia mudar e foi assim que cheguei na próxima etapa: ASSUMIR RESPONSABILIDADE por aquilo que podia melhorar.

Foi dessa forma que fui me tornando protagonista da minha história e não mais refém da mudança. Foi assim que sai do caos que impactava todas as áreas da minha vida (ALCANCE) e parecia que não teria fim (DURAÇÃO) para, na definição de Paul Stoltz, deixar de ser DESISTENTE, permitindo que a adversidade “impacto por mudar de cidade” durasse mais tempo do que deveria, me fazendo fugir do novo e do desafiador, e passasse a ser ALPINISTA, buscando por desafios, reagindo de forma adequada e de acordo com a intensidade do problema, indo além. Fui me tornando incansável em buscar por um novo sentido e me esforcei, cresci, melhorei, aprendi e expandi muito em minhas capacidades. Fui em direção ao medo que paralisa tantos outros...

E foi assim que finalmente cheguei ao aniversário que estou comemorando hoje: 1 ano de trabalho em MEU consultório, meu espaço, primeiro idealizado e depois construindo com muita lágrima e trabalho, tanto ocupacional como emocional.

4 anos após visitar Curitiba posso dizer que cheguei onde estava em SP, contudo, cheguei muito melhor, mais madura, sovada pela vida, transformada. Talvez, se tivesse continuado em SP estaria na mesma, não teria amadurecido tanto, construído e conquistado tantas coisas como realizei aqui. Não só cheguei, como fui mais longe.

Hoje já sou capaz de ver com clareza porque o “símbolo de atravessar a rua” me tocou tanto ao chegar aqui pela primeira vez. De fato, todo esse processo foi uma “travessia” densa, profunda, intensa...

Cheguei ao outro lado e tenho certeza que muitas outras travessias me aguardam, cheias de adversidades e oportunidades. Porque sei que sofrer, espernear faz parte e não me privo desta fase não, me entrego e vivencio a dor do que for necessário, mas ficar nela não leva a lugar algum... e há tantos lugares lindos para se conhecer...

Por isso há tanto o que comemorar, foram muitos ganhos e conquistas. Gratidão a Curitiba, a todas as pessoas que cruzaram meu caminho, tanto as que me ajudaram como as que tentaram me derrubar. Sem tudo isso, não seria quem me tornei hoje.

Como símbolo da minha gratidão pensei com todo carinho numa forma de compartilhar essa labuta intensa de transformação e re-significação... diria até ser um ritual meio antropofágico, conforme Oswald de Andrade tão bem definiu..., e que fez muito sentido para mim...


A todos que estão comigo nessa “travessia” MUITO OBRIGADA!!! Espero do fundo do coração que gostem e que sintam o valor que a travessia de Curitiba tem para mim!!!


29 de junho de 2016

Equipes tipo Tênis X Equipes tipo Frescobol

Hoje gostaria de refletir sobre um tema de extrema importância para o mundo organizacional: EQUIPES. Quem é líder sabe a dificuldade de se construir uma equipe coesa, com um propósito em comum, direcionando todo esforço para a necessidade do grupo e não em interesses individuais.  Os desafios são inúmeros, as diferenças entre os membros muitas vezes gritantes, de forma que muitas vezes o líder se vê num beco sem saída! Como contornar a situação? O que fazer para diminuir o foco negativo nas diferenças e tirar proveito delas?
Em função de atendimentos de alguns coachees e refletindo a esse respeito, lembrei-me de um texto de Rubem Alves que adoro e no qual fala sobre o casamento. Trabalho com muitos cônjuges este texto, mas me dei conta de que é possível fazermos uma amplificação simbólica e no lugar do casamento substituirmos por EQUIPE!
O texto em questão chama-se Tênis X Frescobol (já postado no Blog em 21 de janeiro de 2016 - http://lilianloureiro.blogspot.com.br/2016/01/tenis-x-frescobol-rubem-alves.html). Nele, Rubem destaca que existem dois tipos de casamentos: os do tipo tênis e do tipo frescobol. Eis a definição que o autor apresenta:
“(..) Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
(…) Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis.”
Possível trocar casamento por equipe, não?!
Quantas não são as equipes que jogam tênis entre seus membros? Um querendo aproveitar-se do ponto fraco do outro como arma para tirá-lo da jogada e o mérito ser todo seu…??? Equipes com tal perfil são compostas por pessoas auto-centradas demais e que não conseguem perceber que todos ali estão jogando o mesmo jogo… se um perder TODOS perderão, pois os resultados esperados terão maior probabilidade de ficar aquém do esperado… Enquanto que equipes concorrentes que jogam frescobol se esforçam para corrigir jogadas “tortas”, pois o objetivo principal é manter a bola em jogo internamente.
Jogar tênis só fora, com os concorrentes. Em casa, que tal ficar com a diversão do frescobol…?
Seguindo com as palavras de Rubem Alves…
“Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
Acredito que seja uma ótima metáfora para líderes desenvolverem a relevância da coesão e dos propósitos em comum com suas equipes.

Ótima tarde e jogo de frescobol! ;)

21 de janeiro de 2016

Tênis X Frescobol - Rubem Alves

Ano passado perdemos um grande autor. Autor que abordava temas da vida de maneira poética, metafórica, simbólica... Ele me foi apresentado no final da faculdade e desde então me acompanha com suas simples e profundas metáforas da vida. 

O tema relacionamento amoroso é um tema que desperta meu interesse e que diariamente está presente em meu consultório. Hoje me recordei de uma crônica belíssima que Rubem Alves fez sobre o casamento: há dois times de casamento o do tipo tênis e do tipo frescobol. Tão bela que merece ser compartilhada e refletida.

TÊNIS X FRESCOBOL
RUBEM ALVES

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?". Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo, eu te amo...". Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, 'eu te amo' não quer dizer mais nada". É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".
Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: "Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo". A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: "Tens razão, minha querida". A situação está salva e o ódio vai aumentando.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

http://www.rubemalves.com.br/site/10mais_06.php

30 de abril de 2015

Fim de ciclo: Outono

Hoje é um dia muito especial em minha jornada profissional: um ciclo se encerra para um novo surgir.

Quando comecei no ICOP fiz um post compartilhando a notícia em 19 de outubro de 2013. Quantas coisas boas e transformadoras aconteceram de lá pra cá.

No início da parceria, tudo era muito novo, muito envolvente. Eu tinha energia de sobra, estava louca para começar a trabalhar; Rafa por sua vez tinha projetos sensacionais, mas não tinha tempo para investir neles. Eis que "juntou a fome com a vontade de comer" e a alquimia do nosso encontro aconteceu.

O encontro que tive com o ICOP/Rafa foi providencial. A reação de transformação foi mútua. Hoje digo com tranquilidade que não sou mais a mesma Lilian de quando entrei, vejo que o ICOP passou por uma grande transformação, cresceu muito e ganhou status de empresa. E que Rafa por sua vez, além da brilhante profissional que é, agora está se mostrando uma excelente empresária. Quanta coisa boa!

Para mim foi um privilégio ter feito parte dessa história, ter consciência de que contribuí para que a transformação ocorresse. 

Deixo o ICOP feliz, com a alma leva, com sensação de missão cumprida e com o coração alimentado. Levo comigo os novos colegas conheci e desejo que as relações permaneçam independente do lugar.

Com certeza sentirei muita falta dos bate-batos improvisados nos intervalos de atendimentos. Quanta conversa boa, com temáticas da mais variadas possíveis. Espero vocês para uma visita em meu novo espaço!

Finalizo minha despedida citando um trecho do post que comentei no início:
"É justamente no início da primavera que nossa parceria foi selada e com ela muitas sementes jogadas ao vento, em busca do terreno certo para cair e germinar. Se tais sementes serão árvore ou girassol, não dá para prever, mas as possibilidades são infinitas..." 

Hoje, nesse dia outono percebo como de fato as possibilidades foram e ainda serão infinitas. Muitas sementes de árvore e girassol germinaram e ainda muitas outras estão por vir!


ICOP, Rafa, Babi, Romano, Ligia, Paulo, Mel, Bruno, Marina, Diego,
Beijo grande e meus mais sinceros votos de sucesso sempre para todos nós!
Li

18 de fevereiro de 2015

O privilégio de uma existência é ser quem você é

O privilégio de uma existência é ser quem você é.

Da perfeição, nada pode ser feito.
Todo processo envolve alguma ruptura.
A terra deve rachar para que a vida possa brotar.
Se a semente não morre, não há planta.
O pão resulta da morte do trigo.

As oportunidades para encontrarmos poderes mais profundos em nós mesmos surgem quando a vida parece mais desafiadora.

Ao enveredar pela vida, seguindo seu próprio caminho, pássaros cagarão em você.
Não se preocupe em limpar.

Viva a partir de seu próprio centro.

Irromper é seguir seu padrão sublime, abandonar o antigo lugar, começar sua jornada de herói, seguir sua bem-aventurança. Você descarta o ontem como a cobra se livra de sua pele.

Não há segurança ao se atender à chamada para a aventura.

Negar a chamada é estagnar.
Aquilo que você não experimenta positivamente, experimentará negativamente.

Você adentra a floresta em seu ponto mais sombrio, no qual não há trilha. 
Se há trilha ou caminho, é a trilha de outra pessoa.
Você não estará em seu próprio caminho.
Se seguir o caminho alheio, não concretizará seu potencial.

 A meta da jornada do herói até a conquista da joia consiste em descobrir os níveis da psique que se abrem, se abrem, se abrem e finalmente se abrem para o mistério do seu Si-mesmo, sua consciência búdica ou o Cristo.
Essa é a jornada.

É com a descida ao abismo que resgatamos os tesouros da vida.
Onde você tropeçar, lá estará seu tesouro.
A própria caverna na qual você tem medo de entrar acaba sendo a fonte do que você procura.
A coisa terrível na caverna, tão temida, tornou-se o centro.

Se desejar tudo, os deuses lhe darão. Mas, você deve estar pronto para isso.

Um pequeno conselho dado a um jovem nativo americano na época de sua iniciação: “Quando estiver seguindo o caminho da vida, você verá um grande abismo.”
Pule.
Ele não é tão grande quanto você pensa.

 Joseph Campbell (In: Reflexões Sobre a Arte de Viver)

11 de fevereiro de 2015

Cinquenta tons - um símbolo contemporâneo

Há poucas horas da estréia no cinema do grande Best Seller "Cinquenta Tons de Cinzas, impossível não refletir sobre tamanha repercussão. Nas redes socias inúmeras declarações de contagem regressiva, compra antecipada de ingressos...

Será que o fervor que Christian Grey e Anastasia Steele provocam é apenas sexual? Não há como negar que as cenas "calientes" que a trilogia apresenta tem um fortíssimo apelo. Mas, ficar apenas na dimensão erótica me parece reduzir e limitar tamanha comoção. A trilogia Cinquenta Tons se apresenta como um símbolo contemporâneo, um convite para a reflexão sobre a intensidade e profundidade das relações num momento em que tudo é superficial e fugaz.

No âmbito da psicologia, a grande divergência entre Freud e Jung é a compreensão que têm sobre a energia psíquica. Enquanto que para Freud restringe-se à libido, Jung a amplia como energia cósmica, não no sentido místico, mas como manifestação psíquica da energia de tudo, sendo a libido uma parte de sua representação.

Diante disso, a reflexão apresentada do impacto social desse livro/filme, vai além do meramente sexual/erótico, libido. Diz respeito a uma visão mais ampla desse símbolo e às implicações que representa para os relacionamentos amorosos.

Anastasia representa muitas características, ao mesmo que inexperiente e ingenua, é forte, intrigante e perspicaz. Aos poucos seu lado doce adentra o mundo cinzento e sombrio de Christian Grey. No romance, quantas mulheres maduras e experientes sucumbiram a tal proeza.

É como se Grey representasse o inconsciente sombrio e desconhecido. Desde o primeiro contato, Ana fica magnetizada por ele e vice-versa. É esse o efeito que o inconsciente misterioso produz: fascínio. Uma vez em contato, há o desejo de conhecer, explorar mais. E aí que mora o perigo. Se o ego/consciência não é forte e estruturado o bastante, ele pode sucumbir e um confronto produtivo, pode provocar a destruição. Ao longo da estória Grey (inconsciente) e Steele (consciente) vão se confrontando, se relacionando e sofrendo uma transformação mútua.

Apesar de ser uma relação extremamente intensa, é cautelosa. Há regras, contrato, limites que não podem e nem devem ser ultrapassados. As exigências nada convencionais de Grey exigem revisão e negociação. E é assim que o ego deve se "comportar" ao se confrontar com o inconsciente: deve ser atento aos seus limites, ser cauteloso e não impositivo. Sendo assim, deve ter quase uma postura de reverência para que aos poucos o desconhecido vá se mostrando. É desta forma que Ana age, com uma postura de reverência ao mesmo tempo em que está atenta às suas limitações. Aos poucos vai entrando na "sombra"  de Grey na busca por trazê-la para luz. Em alguns momentos, ao invés de Ana trazê-la à luz, caminha para o lado obscuro sucumbindo ao desejo. Christian é quase como uma pedra presa ao seu corpo que a leva cada vez mais para o fundo. E esse é o grande perigo: mergulhar tão profundamente, ao ponto de se perder, se indiscriminar e se tornar um dos cinquenta tons.

O que Ana vê em Christian são características dela, ainda inconscientes, que são projetadas na figura tão forte e poderosa que ele representa. O mergulho intenso ao inconsciente "Grey" traz a oportunidade de Ana reconhecer em si potencialidades inimagináveis. A finalidade do encontro é ampliar a consciência. Com Christian ocorre o mesmo: ele é convidado a construir um padrão de relacionamento totalmente novo, que quebra suas próprias regras e o expõe ao "contato" (ligação, objetos que se tocam). Ana representa a materialização de todos os seus traumas e medos, os quais inevitavelmente acaba por confrontar como preço de tê-la para si. Quantos desafios que essa relação representa...

Portanto, restringir Cinquenta Tons de Cinza ao sexual é limitar a reflexão mais profunda que esse romance pode proporcionar. Fantasias, fetiches não convencionais podem representar muito mais do que meros jogos eróticos. Podem trazem à tona desafios "desconfortáveis", mas que podem ser libertadores, no sentido da autopercepção que traz. Qual o limite? Até onde é possível ir? Traz também a dimensão do perigo de se perder na intensidade da relação.

Assim encerro essa reflexão, deixando a dica: que tal olhar para além do aparente e visível buscando uma finalidade maior? O que os relacionamentos amorosos, afetivos, sexuais têm a dizer? Quantas pessoas saem destruídas e dilaceradas de relações intensas e profundas porque não tinham consciência de seus limites? Quantos relacionamentos foram desperdiçados por mágoas e ressentimentos e não tiveram a chance de serem resignificados para proporcionar amadurecimento e ampliação da consciência?... Como podem ver, a provocação sexual que o livro provoca é apenas uma parte do potencial que ele encerra e por isso é um símbolo.

Agora chega de blablabla e bora ver o filme né?! rsrsrsrs
https://www.youtube.com/watch?v=DEwIt4amgq4

Um abraço e boas reflexões,
Lilian Loureiro